“Temos que mostrar onde a gente está e o que a gente faz” aconselha Ariane
Atualizado em 07/05/2020

A Ariane Santos de 39 anos é a fundadora da Badu Design, um negócio social que apoia mulheres em vulnerabilidade social através da produção de produtos feitos de resíduo têxtil!
Em 2012, Ariane passou por um período muito turbulento na família. Por questões de saúde, perdeu sua avó e com o falecimento dela, acabou entrando em depressão. A partir disso, nesse mesmo ano começou a se estruturar e surgiu a Badu Design!
#Trajetória empreendedora
Com apenas 30 reais que tinha em seu bolso, Ariane começou a empreender, utilizando esse dinheiro para comprar material e produzir cadernos de uma forma artesanal. Para ela, esse processo de construção da peça se tornou uma terapia, pois toda a vez que se envolvia, se tratava internamente e assim, saiu da depressão.
Foram feitos 10 cadernos com os 30 reais e ela conseguiu vender todos eles. Deixou os produtos em uma papelaria e acabou tendo um retorno muito positivo. As pessoas gostaram muito e teve até fila de espera pelos próximos cadernos. Nesse momento, Ariane percebeu que podia alinhar um interesse pessoal com uma geração de renda.
Pensando em como produzir esse tipo de material a fez bem, Ariane começou a imaginar em como poderia ajudar mulheres que estavam em ambientes hospitalares ou que possuíam alguém na família em situação vulnerável. Afinal, elas também precisavam dessa terapia!
Em seguida, participou de uma campanha para a produção de lembranças para a cidade de Curitiba no período da Copa e teve dois de seus produtos selecionados para o projeto, porém naquele momento, sua produção ainda era feita no seu quarto em casa e ficou em dúvida se voltava para o mercado formal ou continuava participando.
Nessa mesma época, o programa “Pequenas empresas, grandes negócios” veio a Curitiba para cobrir o evento da Copa e a convidaram para participar de uma matéria sobre seu negócio. Feita a matéria, Ariane percebeu que começou a ter muita procura e entre 80 e 100 mulheres entraram em contato para saber como era possível trabalhar na Badu Design, que na época continuava sendo produzida no seu quarto sem as pessoas saberem.
Após essa divulgação que sua marca teve, Ariane recebeu um pedido de encomenda maior e para a entrega ser realizada, convidou as mulheres que demonstraram interesse e queriam participar da Badu Design para fazer uma produção conjunta. Sendo assim, começou ensinando a elas como produzir e em seguida, podiam levar o kit pra casa e por último, começar a vender. Na hora da entrega desse material, Ariane conta que estava ensinando os conteúdos e as mulheres começavam a conversar e trocar experiências, ou seja, era um momento essencial para que elas conseguissem olhar para a vida de uma outra forma e entender que podem ter outras possibilidades em sua vida.
Nesse momento em que viu sua ideia dar certo, Ariane teve uma confirmação de qual seria o foco da Badu Design e por isso, a criou como um negócio social. O objetivo se tornou mostrar que as mulheres poderiam trabalhar, ter seu próprio recurso e ter uma vida diferente, melhor e com mais qualidade.
Em 2015, Ariane quebrou. O modelo de negócio que estava utilizando não estava estruturado, uma vez que ela começou sem recursos, ou seja, tudo que entrava em seu caixa era investido na compra de equipamentos e materiais antes mesmo de pensar na própria venda. Percebeu que não tinha mais condições de comprar tanto material, mas que as mulheres queriam produzir e não tinha mais dinheiro suficiente para manter esse apoio.
Começou então a participar do Instituto Legado como uma maneira de tentar compreender mais sobre seu plano de negócio e tirar suas dúvidas. Dessa forma, entendeu que podia funcionar quase como uma minifranquia social e atingir o objetivo de passar a metodologia e montar os kits para as mulheres trabalhassem em suas casas.
Observando a questão de que mesmo que as pessoas estejam na base da pirâmide, elas ainda têm condições financeiras de arcar com alguns custos mais baixos, surgiu a ideia de criar kits com materiais de um valor abaixo do mercado, sendo assim uma forma de cobrir pelo menos o valor do material. Logo, a Badu Design faz as compras em quantidade maior e consegue repassar às mulheres com um valor mais baixo.
Hoje, considerando que muitas mulheres têm limitações, elas podem levar pra casa os kits e em seguida, já no momento da venda se constrói um ambiente que permite a formação de rede e também que elas se sintam donas do próprio negócio tendo um CNPJ e licença. É uma forma de buscar trazer desenvolvimento econômico e financeiro para elas dentro das possibilidades de cada uma.
Em 2016, Ariane participou do Hora de Brilhar e foi muito importante para o crescimento da organização, já que existiam mulheres para trabalhar, porém estavam sem equipamentos. Ao conseguir ganhar o concurso, essa situação foi contornada e foi possível investir o valor do prêmio em equipamentos que estavam faltando e materiais necessários para a produção dos cadernos.
#Futuro do negócio
Nesse ano de 2018, Ariane pretende realizar um trabalho voltado aos hospitais e buscando trabalhar com aquelas pessoas que estão cuidando dos doentes e que muitas vezes passam o dia todo no hospital,
Além disso, tem o desejo de poder viajar para alguns estados e municípios do Brasil levando a metodologia da Badu Design e ativar e estimular o crescimento do local em que essas mulheres se encontram. Dessa forma, após as capacitações as mulheres podem construir uma rede forte e manter seus negócios através do apoio entre elas.
#Inspirando outras empreendedoras
Em relação a como se vê sendo uma mulher empreendedora, ela conta que está no tempo certo. “Ainda tenho muito o que aprender, ainda tenho muitos desafios, mas quando eu vejo uma das mulheres chegar perto de mim e dizer ‘olha, eu to conseguindo’ ou você vê uma delas que era tímida, já tomando iniciativa e buscando novos conhecimentos, eu me vejo realizada.” Para ela, é satisfatório poder ver que cada mulher que aprende a metodologia consegue auxiliar outras a crescer e dessa forma, podem crescer juntas. Da mesma maneira que Ariane se sente feliz em contribuir um pouco com a vida de cada uma dessas mulheres apoiadas, elas também contribuem muito com sua vida de empreendedora. Ela gosta de ver a união que a Badu Design promove com essas mulheres, permitindo que cada uma coloque seu dom em, quantidades diferentes, com o objetivo de desenvolverem seus negócios juntas.
É preciso mostrar que as mulheres de comunidade também podem ser empreendedoras e conseguem romper essa ideia de que estão pensando muito pequeno. “Elas tem muita chance de crescer, elas querem crescer e só precisam desse despertar” complementa a Ariane.
No meio profissional, Ariane já passou por alguns desafios por ser mulher, principalmente relacionado à pessoas que a consideram mais sensível por seu gênero. A verdade é que ela teve que se impor e demonstrar que as mulheres são tão profissionais quanto os homens. “Temos que mostrar onde a gente está e o que a gente faz” aconselha Ariane.
#Dica da Ariane: Não fique sozinha!
Para ela, nós temos um desafio, mas sempre é possível superá-lo e somar com outras pessoas. “A dica é não ficar sozinha e compartilhar as ideias”, ou seja, é preciso deixar de lado aquele medo de contar suas ideias porque alguém pode roubar, acredite que compartilhando você pode construir uma rede muito maior de pessoas que podem te ajudar, além de ter mais possibilidades. “Nunca desista, porque desafios vão aparecer, mas é muito bom que a gente possa superar e aprender com eles” fala Ariane. E não esqueça que hoje temos um mundo mais colaborativo e as pessoas podem contribuir para que suas ideias cresçam e fiquem cada vez melhores. Não fique sozinha!
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